quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Mais uma noite

Naquele ambiente lotado, barulhento e estranho, um drink após o outro aliviava o cansaço da garota. Ali, ela aparentava ser um mulherão e não a menina cheia de dúvidas que por dentro a consumiam. Havia sido mais um dia de trabalho, cansativo, estressante e interminável. Seus lábios estavam vermelhos, devido aos seus incontáveis mojitos de morango, e seus cabelos descabelados de tanto jogá-los para todos os lados.

Então, como uma brisa fresca no verão, ela o sentiu. Porque aquele sorriso transpirava segurança e dizer que só tinha visto não era o suficiente. Ele tocava a pele, aquecia, inspirava. A mulher segura até então, sentiu-se novamente garota, e suspirou. Sorriu, tímida, e arriscou chegar aos olhos. Logo desviou daquele olhar penetrante que a fez enrubescer. Com a sensação de que minutos teriam passado, voltou-se para suas amigas que, surpreendentemente, nada haviam percebido.

Satisfeita, sorriu para si. Tomou mais um gole, e arriscou procurar o sorriso, que seguiu e sentou numa mesa distante cercado de outros. Pensou em inúmeras possibilidades. Aquele sopro de esperança enchia seus pulmões e lhe dava energia. Queria ir lá, se apresentar, rir, conversar. Mas havia uma fumaça, que confundia os olhos e embriagava a mente. Embora seu instinto lhe dissesse para ir fundo, seus medos estavam fincados demais em suas raízes e aos poucos seu entusiasmo foi se desfazendo.

O que ela não sabia, era que o homem havia gostado daquele sorriso tímido e olhar rápido. Tantas eram as desinibidas que se jogavam, topavam tudo. Sentira naquela mulher algo diferente, uma possibilidade. Sentado, a procurou. Depois de alguns olhares famintos, a reconheceu pelos cabelos e o mojito de morango na mão. Posicionou-se angulado em sua direção.

Mas o que ele não sabia, é que ela vivia em um castelo. Em seus muros de segurança, a menina, não mais garota, não mais mulher, em meio aos seus temores se fechou. Não mais olhou naqueles olhos, muito menos naquele sorriso.

Algumas horas se passaram, e inúmeras vezes o rapaz olhou, sem correspondência. Começou a achar que a mulher não se interessara e entre um gole ou outro, questionava se devia ir até ela ou não. No fundo, ele também tinha suas inseguranças.

A mesa dela pediu a conta e levantaram para sair. Para matar a curiosidade, uma última vez, a garota olhou para trás. Se não podia tê-lo, pelo menos iria registrar cada detalhe daquele sorriso encantador. O que ela não percebera é que ele também olhava para ela, querendo guardar para si cada traço de seu rosto.

A menina resolveu arriscar-se, afinal já estava indo embora, e mais uma vez enrubesceu-se quando seus olhos se esbarraram. Suspirou e rapidamente virou-se em direção ao seu destino e saiu. 

O rapaz, surpreendido pela saída inesperada da moça, fez o que somente lhe restava. A fitou, admirado, até não enxergar mais aqueles cabelos bagunçados jogados de um lado para o outro.

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