Naquele ambiente lotado, barulhento e estranho, um drink
após o outro aliviava o cansaço da garota. Ali, ela aparentava ser um mulherão
e não a menina cheia de dúvidas que por dentro a consumiam. Havia sido mais um
dia de trabalho, cansativo, estressante e interminável. Seus lábios estavam vermelhos,
devido aos seus incontáveis mojitos de morango, e seus cabelos descabelados de
tanto jogá-los para todos os lados.
Então, como uma brisa fresca no verão, ela o sentiu. Porque
aquele sorriso transpirava segurança e dizer que só tinha visto não era o
suficiente. Ele tocava a pele, aquecia, inspirava. A mulher segura até então,
sentiu-se novamente garota, e suspirou. Sorriu, tímida, e arriscou chegar aos
olhos. Logo desviou daquele olhar penetrante que a fez enrubescer. Com a
sensação de que minutos teriam passado, voltou-se para suas amigas que,
surpreendentemente, nada haviam percebido.
Satisfeita, sorriu para si. Tomou mais um gole, e arriscou
procurar o sorriso, que seguiu e sentou numa mesa distante cercado de outros. Pensou
em inúmeras possibilidades. Aquele sopro de esperança enchia seus pulmões e lhe
dava energia. Queria ir lá, se apresentar, rir, conversar. Mas havia
uma fumaça, que confundia os olhos e embriagava a mente. Embora seu instinto
lhe dissesse para ir fundo, seus medos estavam fincados demais em suas raízes e
aos poucos seu entusiasmo foi se desfazendo.
O que ela não sabia, era que o homem havia gostado daquele
sorriso tímido e olhar rápido. Tantas eram as desinibidas que se jogavam,
topavam tudo. Sentira naquela mulher algo diferente, uma possibilidade. Sentado,
a procurou. Depois de alguns olhares famintos, a reconheceu pelos cabelos e o
mojito de morango na mão. Posicionou-se angulado em sua direção.
Mas o que ele não
sabia, é que ela vivia em um castelo. Em seus muros de segurança, a menina, não
mais garota, não mais mulher, em meio aos seus temores se fechou. Não mais
olhou naqueles olhos, muito menos naquele sorriso.
Algumas horas se passaram, e inúmeras vezes o rapaz olhou, sem correspondência. Começou a achar que a mulher não se interessara e entre um gole ou outro, questionava se devia ir até ela ou não. No fundo, ele também tinha suas inseguranças.
A mesa dela pediu a conta e levantaram para sair. Para matar a
curiosidade, uma última vez, a garota olhou para trás. Se não podia tê-lo, pelo
menos iria registrar cada detalhe daquele sorriso encantador. O que ela não
percebera é que ele também olhava para ela, querendo guardar para si cada traço
de seu rosto.
A menina resolveu arriscar-se, afinal já estava indo embora,
e mais uma vez enrubesceu-se quando seus olhos se esbarraram. Suspirou e rapidamente virou-se em
direção ao seu destino e saiu.
O rapaz, surpreendido pela saída inesperada da moça, fez o que somente lhe restava. A fitou, admirado, até não enxergar mais aqueles cabelos bagunçados jogados de um lado para o outro.