Lá fora a chuva caía forte e molhava a janela. Trovejava,
enquanto ele se perdia em devaneios. Havia corrido tão pouco tempo desde o
início de tudo. Uma boca vermelha, um sorriso sincero, um encontro inesperado.
Mas a vida não era assim tão simples. Entre eles, uma enorme distância e o
gosto de quero mais. Encantado, buscava forma de repetir tudo. Sem tirar nem
por, cada gesto, cada olhar, cada toque.
Lá fora, o sol brilhava radiante. Ela estava numa rotina frenética,
finalizando a entrega de projetos e trabalhos que estavam lhe rendendo muitos
frutos. Há alguns dias retornara de um sonho. Pois saíra com destino certo,
metas e horários a cumprir, tudo tabelado, anotado. Praticamente sem tempo de
uma respiração extra. E assim fora, durante quase todo tempo - os longos 20
dias longe de casa.
Aos poucos, ele retornava a sua rotina. Alimentava o bicho, limpava
a sujeira, recebia um pouco de carinho. Arrumou a casa, escreveu alguma coisa.
E pegava-se voando, lembrando de cada detalhe. O que ele não faria para ter
pedido o telefone dela...
Como um turbilhão, ela organizara tudo que restava. Os
papeis, notas e fotos. Estava em seu ritmo insano até aquele segundo. Porque a
música começou a tocar e, como se não fosse suficiente para lembrar dele, ela
encontrou a foto. Aquela que ela nem lembrava ter tirado, mas que tinha
registrado cada traço daquele sorriso que há tinha feito sair do roteiro.
Como em sintonia, longe dali, ele ouvia a mesma música na
rádio. Juntos, sem saber, entraram no site, se registraram e comentaram
perguntando o nome daquela melodia viciante aos ouvidos. Um segundo depois, através
da foto de cadastro, se reconheceram.
Em dois lugares distantes, sincronizados, largos sorrisos se
abriram. Da janela do sol um “oi!” e da
janela molhada um “sinto sua falta”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário