quarta-feira, 26 de novembro de 2008

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

Fernando Pessoa.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

eu tive um sonho.
sonhei que você me traía.
sonhei que você estava num ônibus
e quando eu ia falar contigo
você descia.
sonhei que você me via na rua
mas passava direto
esquecera quem eu era.
eu tive um sonho.
ou melhor,
eu tive um pesadelo.
a gente não mais se falava.
eu sentia sua falta.
você a minha,
[mas não sabia exatamente que era de mim].
eu tive um sonho
e quando acordei fiquei na dúvida
se era sonho ou realidade.
ultimamente anda tudo tão igual.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

O que são as conhecidências? Elas realmente existem?
Penso na lei de murfy. Aquela que todo mundo diz ser a do contra. Mas será que é do contra mesmo? Será que não saber o que vai acontecer é assim tão ruim? Será que acontecer o contrário do que a gente estava pensando, mas no fim resultar em coisa boa é realmente pura conhecidência? Será que as loucas suposições da nossa cabeça são verdade?
Será que pegar um ônibus três vezes com a mesma pessoa é pura conhecidência? Será que querer que isso aconteça influencía em alguma coisa? Será que distrair-se e vê-lo chegar tem ligação? Será que é só uma questão de conhecidências ou é destino?
Não sei, você sabe?
Não sei se quero saber.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

É um olhar diferente o das 6h da manhã.
No ônibus, várias caras de sono, trabalhadores que já estão há umas duas horas fora de casa. Na rua, alguns lugares abrindo suas portas, com os primeiros empregados a chegar. Outros estabelecimentos permanecem fechados, dormindo. Há pouquíssimos carros na rua, nenhum trânsito. Vê-se poucas pessoas também. Muitos mendigos embaixo das marquizes dormindo, de Laranjeiras à Gávea. O sol ainda está nascendo. Até cinco minutos atrás, tudo era escuridão. O tempo passa mais devagar e os prédios e construções vão se mostrando à medida que o ônibus passa e o sol os ilumina.
A viagem de 40 minutos dura 15. Quando vou ver, já é hora de descer. O ônibus esvaziou-se. Umas gotas de chuva dão o ar da graça. Eu caminho, sozinha, em direção ao que parece ser um longo dia.