quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

4 estações

os dias de sol eram quentes, mas a brisa noturna arrepiava.
era tão bom ver seu olhar refletindo,
e o som das ondas do mar, na praia.
a canga colorida sempre cheia de areia,
o violão que você fazia questão levar,
só porque sabia que no fundo eu ia acabar cantando.
aqueles dias dourados,
longos,
intermináveis.

os dias de sol eram quentes, apesar do vento constante.
o guarda-sol não mais fazia-se tão necessário.
o calor queimava, mas não o suficiente.
eu chegava com meus amigos,
e você, quando podia, aparecia.
muitas vezes de surpresa,
jogando agua em todo mundo...
aqueles dias avermelhados,
de por-do-sol,
cansativos.

os dias de sol eram quentes, apesar de gélidos na sombra.
o casaco não saía da bolsa,
e a praia era deliciosa.
mais vazia, tranquila.
um livro de companhia,
uma vez ou outra uma amiga,
ou você.
dias que terminavam cedo,
devido ao frio.

os dias de sol eram quentes, com um vento refrescante.
biquini, blusa, ipod, caderno, caneta.
eu ia sozinha, sempre.
as vezes esbarrava em alguém,
ou recebia uma ou outra ligação.
mas depois do fim,
havia escolhido ficar um pouco só.
os dias eram longos,
belos,
criativos,
inspiradores.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

parabéns

quero vomitar as palavras que um dia disseste-me
ilusórias criações de um futuro inexistente.
sufocar seus desejos,
como maltratastes meu sonhos.
destruir suas esperanças
destroçando seus sentimentos.

conseguiste minha raiva,
após quase possuir meu amor.
ódio e rancor de braços dados,
tentando lhe alcançar.
um belo presente de aniversário,
o que mais poderia lhe dar?

que comemore em ruínas,
assim que desmoronado.
mas não me entenda mal,
torço para que construa de novo.
mas espero que fique bem alto,
seu castelo de medos e mentiras.
para então eu poder ver de longe,
e nessa ampla distância continuar.

tapa na cara


em meio a conversa,
ferida,
decepção sentida,
numa surpresa ruim.
inocente e ingênua,
julgada sem dó.

da perda há tanto ocorrida,
a raiva surgida.
trinca o dente,
sente o suor.

a lágrima que não escorre,
porque o orgulho fere.
e a ausência não mais faz falta,
assim como a expectativa extinguiu.

vá-te a merda,
a hora é essa,
seu bonde partiu.

esqueça de mim,
seu tempo acabou.
jogue seu jogo,
palavras e ego,
se faz de esperto,
e de vencedor.

roda gira gira,
foi só uma partida,
parabéns,
terminou.



sábado, 22 de janeiro de 2011

Valsa de um só


Talvez eu tivesse ideias para escrever. Mas, naquele momento, em meio a penumbra e o chacoalhar do ventilador, nenhuma das palavras fazia sentido. Era de um vazio curioso, que causava enjôo.

Talvez, na verdade, o receio de saber é que provocava tudo isso. O medo de encontrar a resposta e então seguir seu caminho.

Talvez, fosse pura sabotagem. Amedrontar-se com a possibilidade de realmente aparecer, conseguir, conquistar, realizar.

Talvez, nada mais que o pavor do sucesso. De olhar para si e ficar totalmente satisfeito e feliz com o que vê. Talvez, na sombra deixada pelo abajur do canto, talvez ali, ela enfrentasse. Não seus medos, problemas, desafios. Talvez ali, confortável, obnubilada, ela conseguisse enfim encarar a si mesma. Sem plateia, público, espectador.

E o chacoalhar do ventilador, o zunido do lápis no papel, ela e sua outra metade. Ou seria eu e minha outra metade? Numa disputa de eu mesmos, de conduções e confusões. Uma dança sem graça, sem música, sem luz, sem fim.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

verão


o calor que faz melar,
do suor que escorre a nuca.
e que com a gota gelada do mar,
arrepia e inspira.

o sol queimando a pele,
deixando seu rastro avermelhado,
em alguns moreno.

transpira e água,
inunda de sede e fogo.
úmido,
molhado,
seco.

das praias lotadas,
do banho de mar
e de chuva.

da saudade quando termina,
e a espera do carnaval.
joga serpentina,
mergulha de cabeça.

verão.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

próximo capítulo

seria mentira se eu dissesse que já está tudo ótimo.
que você já não passa mais pela minha cabeça,
e que é somente uma apagada memória.

porem não minto ao dizer que foi.
que consegui enxergar que já deu
e no mais clichê de todos,
foi bom enquanto durou.

consigo, ao menos, agora,
não ficar mais me questionando,
e imaginando,
como teria sido se durasse mais.
se as coisas tivessem sido a minha maneira
e não a sua.

porque agora isso já não importa mais.
porque depois do ponto final,
inicia-se um novo parágrafo,
mudando o assunto.

ou simplesmente vira-se a página,
(olha o clichê aí de novo)
ou mesmo um novo livro.
talvez somente um novo capítulo,
afinal,
trata-se de mim.
e se você já não mais faz-se presente,
não é por isso que minha história chega ao fim.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

O peso não é mais o mesmo.
Como transformada em pluma,
sinto-me a flutuar,
sem pesar o fim.
Porque ciclos acabam,
enquanto outros iniciam.
E estar só não quer dizer solidão.
O monólogo tornou-se cansativo,
e eu prefiro dialogar.
Que seja comigo mesma,
que pelo menos me escuto,
e discuto se não concordar.

Consciência IV , quem sabe o fim

esvaziada.

libertada,
tranquilizada,
conscientizada.

acalmada,
perturbada,
acreditada,
transtornada.

melhorada,
malcriada,
mal-lavada,
terminada.

desabada,
encrencada,
realizada.

basta.
recomeço.

Consciência III

para veres como borbulha por dentro,
como consome minha sanidade,
como tiras-me do sério.

ardente sufocou,
criou bolhas internas,
que agora cicatrizam em paz.

e do mais,
que você se contente,
e esteja contente,
com o meu não querer mais.

porque já basta,
o fogo alastrou.
e a chama que queima,
não é mais de prazer.
ela inunda o ser,
como ácido sulfúrico
que em segundos corrói.

não quero saber,
vá se fuder,
eu vou é viver.

Consciência II

em meio a tanta decepção,
respire.
cate fundo mesmo quando não há mais ar.

não generalize,
não vai ser sempre assim.

coragem,
consigo mesmo.
é pra você
e por você.
pra mais ninguém.

escute,
aceite,
entenda.

podem lhe entregar lanternas,
mas só você pode enxergar a luz.

não desista,
enfrente,
persista.

decisões,
suas.
tomadas sozinho.

assim é,
assim foi,
assim sempre será.

por isso,
de novo,
respire.
confie
e vá.

você,
vá pra puta que te pariu.
eu,
vou.
seguir meu caminho.

Consciência

Às vezes, ela se pega questionando se é desse mundo. Se por dentro tem sangue, coração ou simplesmente água e gelo. Um castelo erguido pedra por pedra, lentamente, durante os anos. Uma enorme dificuldade de abrir a porta e deixar qualquer coisa entrar. Tanto esforço para correr o risco de um cavalo de troia? Mas se convence, que a felicidade só real quando dividida. Então, aos poucos, fresta a fresta, vai deixando uma brisa entrar. Sente um calafrio e um pingo. Seria uma lágrima? O sopro da brisa trouxe o calor. Que aos poucos derrete, cômodo a cômodo, parede a parede, aquele castelo tão bem construído. Mas será isso ruim? Um palpitar. Lento, baixinho, se inicia. E com ele, um liquido invadindo, se espalhando. O calor aumenta e inunda rapidamente, alagando todo o resto. Mas o prazer do aquecimento logo se vai. Como sempre previu que aconteceria, com as portas abertas, o cavalo de troia entrou e tudo destruiu. O palpitar que antes era baixo, tímido, tornara-se ensurdecedor. Ocupava um espaço enorme trazendo consigo sentimentos desconhecidos. O cavalo foi embora trotando, deixando bosta espalhada por todo caminho. Só que o cheiro causava dor. E então, ficou a questionar-se porque havia aberto a porta? Por que caíra na tentação? O frio nunca a havia decepcionado. Mas, ao mesmo tempo, sua memória a traía.  Ficava criando imagens relembrando como era bom no fogo. Como era diferente de tudo que já havia vivido antes. Cheia de dúvidas, voltou a construir o castelo, lentamente. Mas não sabia que toda vez que dormia, inconscientemente, ia lá e desmontava alguma coisa, para que ele nunca mais voltasse a se erguer. Talvez fosse porque no fundo soubesse que apesar da dor, valeria a pena tentar  viver o que foi bom de novo, mas quem sabe de alguma maneira diferente.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Martelo

O pior de tudo era ter que aceitar que era em você que eu pensava. Que apesar de estar com outro, era você que eu via quando fechava os olhos. A boca não era a mesma, o encaixe não era tão bom. A mão que me tocava não gerava o calor da sua, nem as faíscas que saíam de nós. Mas no auge da situação, me deixei levar. Me questionando por que não era você que estava ali? Talvez estivesse com outra, em algum lugar. Talvez estivesse só. Não sei e provavelmente nunca irei lhe perguntar. Mas como um relógio, que bate sem parar, ou como uma britadeira em dia de domingo, acordando aqueles que só querem descansar. Você martela em minha cabeça. Sem pausa pro xixi ou mesmo para uma hora de almoço. Você aparece do nada e fica na minha mente hospedado, como se fosse um convidado ilustre. Passeando por todos os cômodos, pedindo serviço de quarto e tudo mais. Quando será que você vai voltar dessas férias intermináveis dentro da minha cabeça?! Aguardo ansiosa para que você se vá, ou que volte, mas com carne, osso e sentimento. Não somente como uma assombração.