quinta-feira, 7 de abril de 2011

um dia qualquer



O sol daquele dia iluminava as janelas dos prédios lindamente. Mas os raios de outono não aqueciam o suficiente para acalmar a alma. Nas sombras, o arrepio corria até a nuca, trazendo lembranças através do inconsciente. Pelo vidro, ela via o movimento insano que acontecia lá embaixo. Buzinas, falatórios, fumaça. A cidade enérgica no fervor da tarde. Apesar de suas obrigações, o que ela mais queria era estar em outro lugar. Mais calmo, tranqüilo. Acompanhada. Não sozinha no meio da multidão. A solidão de dois, que se entendem e se completam. Embora soubesse que cedo ou tarde iria acontecer, aquelas horas que restavam se arrastavam feito caracóis. Não os do seu cabelo castanho, assim como seus olhos. Os bichos que levam sua casa consigo. Ela levava seu mundo consigo. Com um papel e uma caneta ia longe, vivia suas fantasias e se transformava naquilo que gostaria de ser. Não que fosse infeliz, não a leve a mal, mas no fundo sempre existem desejos ocultos que não são revelados para ninguém. No meio das palavras ela se perdia sem contar o tempo. De olhos fechados via tudo muito real. Mas apesar dessa convicção, intimamente ela entendia que não passava de uma ilusão. Por mais profundo que fosse seu mergulho, ela sempre conseguia retornar a superfície com um pouquinho de fôlego sobrando. Aos poucos, ela foi percebendo que precisava de ambas realidades. Em seu mundo criado, ela se perderia em meio a tantas opções e viagens. Já no mundo real, repleto de rotina e obrigações, ela ajudava a criar quem realmente era. Uma pessoa não se forma somente de estudos e criações. São suas vivencias que transformam todo seu ser. E assim sendo, ela tentava diariamente vagar entre os mundos, entre os mares, entre os sonhos, entre a realidade. Uma viagem fascinante e particular.

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