quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Um mês por ano

**********Marco acordou com muita saudade. A princípio ele não sabia do que, mas fez um esforço para tentar saciar aquilo que o incomodava. Foi parar na casa de Joana, sua vizinha e melhor amiga. Conversaram um pouco, então lembrou daquele dia da praia. Ele, Joana e Otávio haviam ido juntos. Jô, como sempre, super sociável, cumprimentou uma enorme quantidade de pessoas quando chegaram. Otávio, assim como Marco, não conhecia ninguém. “Pêra lá, eu conhecia a Andressa, já esqueceu?”, acrescentou Marco para Joana.
**********Joana é a escritora da galera, sabe por no papel tudo aquilo que eles estão sentindo, mas, ao mesmo tempo, é péssima para falar. No momento tentava escrever o motivo da saudade do amigo. “Ta, continua Jô”, pediu Marco.
**********Pois era mais um dia das férias de julho: sol, calor, praia de meio-dia. Tudo estava ótimo. Só que do nada o tempo fechou. Marco, o mais brincalhão, já de saco cheio de estar lá, tentou apressar os amigos. “Me escutem, se a gente for embora agora não toma chuva”. Jô não deu ouvidos e foi para o mar. Logo veio Marco atrás dela. Na verdade, ela não mergulharia (tem um medinho da água) e Marco sabia disso. Foi justamente para encher um pouco o saco da amiga. Ficaram conversando durante um tempo e Joana mostrou no mar lugares onde já estava chovendo. “Mentira que aquilo é chuva!”, exclamou Marco. Joana tinha aprendido a reconhecer a chuva com seu pai, há muito tempo. Os dois viram Otávio olhando pro nada, no meio daqueles desconhecidos (pelo menos para ele), quase que falando sozinho. “Vem cá”, disse Jô. “Eu?”, perguntou Otávio. “Não, minha mãe”, respondeu Marco. Agora estavam os três de frente para o mar. “Sabe que aquilo ali é chuva?”, perguntou Otávio. Jô riu e Marco, inconformado, reclamou. “Pô, todo mundo sabe disso menos eu?”. Ele era daquele tipo de garoto metido a sabidão, que não se conformava em não saber alguma coisa que seus amigos sabiam.
**********Resolveram ir embora e acabaram fazendo com que todo mundo também fosse. Pegaram carona com Alberto, um fanfarrão da galera. No meio do caminho desabou um temporal inacreditável, então todos agradeceram aos três por terem partido. A volta para casa foi divertida. Juntos, no banco de trás do carro, morreram de rir das palhaçadas que faziam.
**********Jô sabia que logo logo aquilo tudo iria acabar. Otávio, em poucos dias, voltaria para sua cidade. As aulas iriam recomeçar e mais umas férias de inverno ficariam para trás. Marco retornaria ao trabalho e Joana à faculdade.
**********Aos poucos foi ficando claro que era desse sentimento que Marco sentia falta naquele dia. Da amizade das férias, das praias, saídas, pura diversão. Eram sempre três melhores amigos durante todo um mês de cada ano.
**********“Fim”, disse Joana.
**********“Não sei como você consegue Jô, parece que fui eu quem escreveu”, comentou Marco. "Consegui ver o filme na minha cabeça”.
**********“É, eu não sei explicar. De repente eu estava sentindo o mesmo que você”.
**********“Pode ser. Julho sempre é o melhor mês do ano, quando estamos juntos.”
**********“Nossas aventuras, dramas, risadas”.
**********“Queria que o Távio morasse aqui com a gente.”
**********“Não seja tolo! Só é tão bom porque é raro. Todo mês não teríamos as histórias inusitadas pra contar, nem os problemas de faculdade e trabalho. Além disso, não teríamos os casos paulistas que ele sempre traz”.
**********“É, você está certa como sempre”.
**********“Como sempre? Nossaaaa, deveria ter gravado essa frase!”
**********Joana e Marco eram assim. Viviam brigando, mas eram totalmente unidos. Se conheciam desde os três anos de idade e nunca souberam viver sem a amizade um do outro. Conversavam, discutiam e riam, riam muito.
**********Otávio era o complemento do trio. Quando juntos não havia briga, não gostavam de perder tempo com isso. Eram sempre os três se aventurando pelo Rio de Janeiro. Curtindo as férias como se fossem os últimos dias de suas vidas, fazendo tudo que desse vontade.
**********O paulista normalmente se instalava na casa de Jô. Desde que se conheceram, há uns cinco anos, se tornaram muito amigos. No início, Marco teve ciúmes. Era ele o melhor amigo da menina e ver um concorrente não foi nada satisfatório. Mas ele percebeu que juntos eram imbatíveis. Nesse último verão, Távio ficou duas semanas na casa de cada um, mas, no final das contas, acabavam sempre os três juntos. Quando ele estava na casa de Jô, Marco também dormia lá, e quando estava na casa de Marco, era a vez de Jô permanecer por lá. E assim acontecia todo ano, durante o mês de julho, quando os dias eram mais divertidos e passavam mais rápido e três amigos torciam para que durassem para sempre.

********** = Parágrafo

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

ele fala, fala,
mas o ouvido parce não querer ouvir.
é chato.
nada interessante.
ele já tinha chamado sua atenção,
mas o garoto não estava nem aí.
tinha feito o seu papel,
tirara dez.

ele quer o quê?
que eu preste atenção em tudo que ele fala?
eu não estou na escola.

lá fora, alguém fala.
ele queria sair da sala,
fazer uma horinha.
está tão ansioso.
o telefone tem que tocar,
mas hoje ainda é segunda-feira.
tem a semana toda pela frente.
esperar, esperar,
vai ter que distrair a cabeça.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

uma vez por ano

em um lugar distante, ela era tudo o que queria ser.
logo ali, ela fingia ser quem não era.
usava fantasia.
jamais usara máscara.
era uma amante do carnaval.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

batalha cotidiana

batalha cotidiana

esperei, pacientemente.
exercitei a calma.
fui fazer outra coisa,
contei até 100.
nada.
me esforcei.
calculei se valeria a pena,
imaginei.
nada.
mordi os lábios,
tensa.
esperei, pacientemente.
fui à cozinha,
comi alguma coisa.
nada.
respirei fundo,
pensei.
esperei, pacientemente.
lembrei de tudo,
dos atos,
das falas,
das brigas,
das lágrimas,
das risadas.
nada.
dei uma espiada [ele ainda estava lá],
terminei o lanche.
só três minutos se passaram,
agonia lenta.
esperei,
esperei,
esperei.
pacientemente,
fui ver tv.